
Em meio à fartura da transição do Cerrado para a Amazônia, a região apresenta diversas espécies nativas de frutas e o gosto popular por elas. São sabores únicos como a cagaita, a bacaba e a mangaba. Valorizar o uso das plantas nativas e incentivar o plantio diversificado de frutas estão na base do trabalho da Araguaia Polpas de Frutas.
Gestada pela ANSA a partir do ano 2000, a Araguaia Polpa de Frutas existe de uma forma estruturada desde 2005. A fábrica localiza-se em São Felix do Araguaia e produz polpas naturais congeladas de 20 frutas nativas e cultivadas da região. O projeto surgiu visando criar uma cadeia produtiva para as plantações agroflorestais que se formavam na região através do trabalho das entidades parceiras Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Associação Terra Viva (ATV) e, posteriormente, do Projeto Socioambiental da ANSA. Desta forma, pretende-se abrir caminho para outras formas de produção e geração de renda na região.
Anualmente, cerca de 250 pessoas entregam frutas para a Araguaia Polpa de Frutas. Em sua maioria, são agricultores periurbanos ou assentados. Para os agricultores periurbanos, é uma forma de complementar a renda familiar aproveitando as frutas dos quintais e chácaras e para os agricultores dos assentamentos se configura como uma alternativa real de diversificar a produção em suas terras.
Além das frutas colhidas do pomar e da roça, como manga, goiaba, acerola e melancia, muitas famílias aproveitam as frutas nativas, como pequi e caju. No varjão, como são chamadas as áreas baixas que alagam no período de chuvas, eles coletam o murici ou o buriti antes que a cheia dos lagos impeça o acesso às plantas. "A gente coleta debaixo de chuva, debaixo de sol, com água na canela, mas pra gente, é muito gratificante colher essa fruta, a gente limpa, arruma bem direitinho. E o dinheiro é abençoado, dá pra pagar minhas continhas" diz uma das agricultoras familiares envolvidas no projeto.
Todo ano, é colocada em prática uma verdadeira operação no PA Dom Pedro durante a safra do caju. A comunidade se organiza para gerenciar a entrega da fruta em sete pontos de coleta dentro do assentamento, contando com freezers disponibilizados pela ANSA. Por ano, cerca de 40 famílias assentadas entregam uma média de 15 mil quilos de caju.
As polpas produzidas são vendidas em mercados, restaurantes e lanchonetes de São Félix do Araguaia e Alto Boa Vista e através de programas públicos quando possível.
Os resíduos dos frutos que saem da fábrica de polpas são aproveitados no Viveiro Araguaia da ANSA, seja para compostagem, seja para prover sementes para as mudas. As sementes também são vendidas para a Rede de Sementes do Xingu, apoiando outra iniciativa sustentável da região e gerando receita para o projeto.
Outra parceria interessante é a acolhida de estudantes de nível técnico e superior do campus do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) em Confresa como estagiários. Anualmente, entre 5 e 10 jovens da região aprendem o manejo e beneficiamento das polpas.
Nos últimos anos, a Araguaia Polpa de Frutas vem experimentando diversas inovações tecnológicas e organizativas para melhorar sua capacidade de suporte e a estratégia de compra e venda. Assim, o envasamento das polpas foi automatizado e houve uma reforma na fábrica que permitiu a movimentação de cargas maiores através de pallets.
Desde o início de 2014, o projeto conta com uma pessoa dedicada exclusivamente à venda de polpas e compra de frutas, melhorando o contato com as comunidades. Complementarmente, foram desenhadas novas embalagens e produzidos novos materiais de divulgação. Desta forma, pretende-se aumentar as vendas de polpa, atingindo o mercado regional de forma sólida.
Assim, o projeto trilha rumo seu maior desafio futuro: conseguir tornar a fruticultura agroecológica e o extrativismo possibilidades reais de trabalhar a terra para os agricultores familiares da região. Está claro que é necessária uma intervenção decidida e direcionada dos poderes públicos para uma mudança real, e que por si só, o projeto não tem, e nem deve ter, essa capacidade. Mas a Araguaia Polpa de Frutas, em articulação com outras iniciativas que se apresentam, é uma peça que contribui, de forma real e local, na construção desse desafio maior.